quarta-feira, 2 de maio de 2007

A colonização cultural






"por uma Rádio
e uma TV regionais"
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I

Numa sexta-feira ("veneris") do fim de Março, depois de duas semanas passadas noutro local da Europa, ao regressar a casa liguei a rádio.
Apetecia-me ouvir falar português e ouvir música portuguesa !

Sintonizei, aleatoriamente, a Rádio Comercial e… ouvi uma senhora despedir-se de um enfatuado locutor dizendo : "Êntão até segunda-fêra…".
Logo a seguir, a mesma senhora anuncia o nome do programa : "Coffee break" !
"Lisbon" transmitia estrondos e ruidos de uns esganiçados "british" gritando pela mãe (creio eu…), enquanto se escutavam saloiadas do género :
"Aquí em "L'jboa" "omenta" o calor e cada vez "más" apetece a "pichina"…
Depois comentava uns problemas de trânsito automóvel entre um "CRIL" e uma ponte!
Obviamente , não continuei a ouvir semelhante "exportação" de problemas caseiros…

É imperativo que se comece a exigir uma Rádio e uma TV regionais, verdadeiramente regionais, não como extensão das comunicações provenientes de "Al Xabuna" !
Como se a um habitante de Chaves, Mirandela ou Guimarães lhe interessasse minimamente que na Calçada de Carriche exista ou persista um problema de trânsito…

Nada tenho contra o facto de que na Estremadura exista uma ortoépia diferente, pois traduz uma interpretação forânea da original lingua galaico-portucalense.
O que sinceramente me penaliza é a sua imposição em regiões onde soa a "estrangeirismo"… como se já não bastassem as telenovelas cariocas !

Deveriamos, concomitantemente com um omnipresente apelo à Regionalização (Região Norte), propagar do Minho ao Douro e a Trás-os-Montes a consigna de que "temos orgulho na nossa pronúncia", origem da lingua, sem deturpações mouriscas nem caipiras, e um sentimento elevado de "Ser do Norte" !

II

A população de Portugal, eufeudada por séculos de centralismo redutor e intelectualmente castrante, acabou por adquirir, mais por carácter que por temperamento, mais por contágio social que por tradição cultural, uma exacerbada tendência em considerar o diálogo como enfrentamento, a reflexão sobre um tema que nos é apresentado, como uma perda de tempo, a aceitação de estar errado, como uma derrota, e uma conveniente aceitação de um argumento diferente do nosso, como uma inaceitável deshonra.
Daí, a quase impossibilidade de "colocar" uma nova perspectiva, um novo conceito que, na generalidade cultural como na particularidade política, possam desbloquear situações que estão "evidentemente anquilosadas", no tempo como na perspectiva.
Se a isso juntarmos o habitual provincianismo bacoco de que "no estrangeiro é que se criam as ideias, e a nós compete-nos copiar", temos completado o quadro do entorpecimento cultural que por aí grassa.

Às possíveis expressões culturais, reflexo de vivências diferenciadas dos povos habitando territoralidades dispersas do Minho ao Algarve, impõe-se a moda da capital cosmopolita que, etiquetando as manifestações regionais de provincianismo, mantém uma visão saloia desde uma perspectiva obtusa centrada nas portas de Santo Antão.
Para a Babilónia-sobre-o-Tejo só interessa um ideal de Imperium…

Porém, às nações que constituem o pais Portugal, cada vez mais se vai abrindo a perspectiva de se assumirem como entidades culturais capazes de criarem e desenvolverem projectos próprios sem necessidade de recorrer à boa ou má disposição dos agrimensores do Terreiro do Paço.

Numa perspectiva inteligente de cooperação, Portugal, rico das nações que o constituem, poderia ser um factor de desenvolvimento da desejada Europa dos povos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Mais um excelente texto camarada Galaico.
Eu também sonho com TVs e rádios regionais, portanto só do norte de Portugal e com TVs e rádios só da nossa nação, Galécia.
Seria muito bom começarmos já a ter um canal e rádio que falasse apenas da Galiza e Norte de Portugal.

Por uma radio e Tvs regionais e por uma radio e Tvs Galaicas.

Anónimo disse...

Puedo distinguir por el acento a un portugués y a un brasileiro, pero no alcanzo a distinguir las "pronuncias regionais" dentro de Lusitania. Aunque me da la sensación que en la zona de Chaves es donde el portugués más se parece al gallego..........

Antonio Lugano disse...

A zona de Chaves (Trás-os-Montes) faz parte da Região Céltica, não da Lusitânia, que se inicia um pouco a sul do rio Douro e vai até à fronteira entre o Alentejo e o Al Gharbe.
A lingua portuguesa provém do latim através do galaico, e posteriormente do galaico-português.
A lingua foi sendo transformada pelas monarquias lusitanas que lhe introduziram diversas modificações, algumas delas com o único objectivo de a separar do galaico.
Actualmente, embora a gramática seja a mesma, distingue-se perfeitamente a ortoépia do Norte (mais galaica) das ortoépias do Centro, Estremadura, Alentejo e Al Gharbe.
Em Lisboa vigora uma ortoépia de origem saloia (dos mouros).

Anónimo disse...

"Em Lisboa vigora uma ortoépia de origem saloia (dos mouros)."

hehe tem piada ;)