segunda-feira, 25 de junho de 2007

Autoestradas p'ra ir a "Ljbôa"


Isto é qu' é "pugreço", pá !


"Sócrates considera prioritária ligação por auto-estrada a Bragança"
noticia publicada no Publico.pt (Lusa) em 24.06.2007

Eis algumas opiniões de leitores, publicados pelo mesmo jornal :

Quer pôr fim ao isolamento, ou quer votos nessa zona do país, tradicionalmente PSD?
É que quem anda por todo o lado a fechar escolas primárias, maternidades e centros de saúde, no interior do país, realmente tem uma forte preocupação com o isolamento do interior!
Não percebo este tipo de política...Primeiro fecha serviços, obrigando a população a deslocar-se Kms ou a mudar de terra para os poder usufruir e depois melhora acessos? Qual é a lógica?
por S. Viana, Porto

Eu, que nasci para lá do Marão, acho que continuamos a ser enganados pelos mentirosos.
As obras vão demorar mais uns anos, porque os fundos destinados a Trás-os-Montes são desviados para pagar aos "boys" e, talvez, se a Câmara de Lisboa fôr para o PS, para pagar as dívidas.
por Castelhano, Porto

Em vez de se dar prioridade ao transporte ferroviário, continua a apostar-se nas estradas, como forma de desenvolver o país.
Os lobbies da construção civil agradecem, mas as populações do interior ficam cada vez mais atrofiadas.
Somos, de facto, "um país de bananas governado por sacanas".
Então se o António Costa ganhar em Lisboa (não com o meu voto) fica o ramalhete completo...
por Brotero, Lisboa

Prioridade absoluta! E que mais Senhor Engenheiro.
Por enquanto, para ir de Vila Real a Bragança existe uma estrada onde a circulação esta' perfeitamente assegurada (ainda nao se vê a utilidade de gastar um dinheirão para tal projecto - há outras necessidades muito mais importantes e urgentes) a não ser que seja para favorizar a circulação de alguns burros e camelos ocasionais...
Mais seriamente, as verbas à disposição do Estado têm e devem ser utilizadas com mais discernimento.
Se assim não for, o atraso de Portugal nas diferentes áreas tocando ao Ensino, Formação Profissional, Saúde, Cultura, Protecção da Natureza e nao só, virá a ser, quiçá, irremediavelmente comprometida.
por H.Felgueiras, Montpellier - França
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comentário
Numa entrevista concedida ao "JN" (17-06-2007), Paulo Morais, antigo vice-presidente da Câmara do Porto e ex-vereador do Urbanismo, entre outras coisas, afirma :
1.
(…) Por que motivo são os promotores imobiliários e os construtores os grandes financiadores da vida partidária?
Naturalmente que querem alguma coisa em troca.
Por que ninguém analisa quais são as contrapartidas destes financiamentos?
E não falo apenas de financiamento dos partidos, mas também da vida de todos que giram na órbita dos partidos.
No financiamento partidário, quem arranja dinheiro para os partidos fica com 40%.
Por isso, há muitas pessoas que nunca tiveram actividade conhecida mas acumulam fortunas.

2.
(…) O mais importante é intervir nas causas. O regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial tem já oito anos.
Preconizava-se que as condições segundo as quais os solos podiam ser reclassificados de rurais para urbanizáveis seriam excepcionais.
Teriam de ser regulamentadas de forma uniforme no país e em 120 dias.
Passaram oito anos e nada.
Quatro chefes de Governo ficaram reféns das negociatas. (…)
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Afirmações que ajudam a melhor compreender o afã dos políticos em inaugurar milhares de toneladas de cimento e asfalto, convertidos em estradas… ou em colmeias de 10 andares (ou 30 ou 50)… em hiper-super-macro centros de comércio onde se come "lixo transgénico" e se bebem "residuos químicos"…

Não se edificando mais escolas nem hospitais, não havendo mais estádios para construir e sendo manifesta a inflação de pontes, onde gastar importantes quantidades de capital, senão em vias rápidas, circulares, internas e externas, e outras autoestradas que, garantem um retorno "agradável" ?

Para quê desenvolver as ferrovias ? Para quê proteger a Natureza ? Para quê melhorar as condições de vida do rural ?
Nas urbes é que é bom… e construem-se mais casas… e vendem-se mais "pópós"… e mais gasolina… e mais pneus…

Os senhores autarcas lucram (leia-se de novo o que diz Paulo Morais), os idiotas úteis lançam foguetes, e a maioria eleitora-pagadora de impostos, enfia a cabeça num saco e queixa-se da falta de luz…

A oligarquia seleccionou o sr. Pinto de Sousa para 1º ministro (eles lá sabem porquê), o povinho lá foi em fila votar…
"Agora é que vai ser", diziam alguns… E tinham razão : agora é que é "mais do mesmo" !
Aprenderão algum dia ?

sexta-feira, 22 de junho de 2007

É imperioso Regionalizar !


criemos um
"Movimento Cívico"

Os mais conscientes quanto à critica situação social e económica de Portugal sabem que a origem do descalabro não de deve a baixos indices de produtividade ou a alguma idiotice crónica dos portugueses.
A produtividade somente se encontra abaixo da média europeia em grandes empresas públicas, e não por faltas directamente imputáveis aos trabalhadores, mas sim ao arrivismo e falta de qualidade dos gestores. Se o exemplo deve vir "desde cima"… aí mesmo se situa a crise.
Os milhões de portugueses que vivem e trabalham por esse mundo fora, com agrado de quem os emprega e de quem com eles coabita, são prova de que se "idiotice" existe ela está concentrada nos parasitas da política que por aí proliferam.

A Região Norte (da Galiza ao Vouga) durante tantos anos o motor económica do país, está empobrecida, desmoralizada pelo centralismo dos governos que nos têm parasitado e pela estupidez de muitos "empresários" que correm para o Terreiro do Paço ao primeiro assobio do "poder".
E lá vão, de cauda a abanar e lingua pendente, pronta ao lamber de botas que lhe seja sugerido.

Onde estão as sedes das grandes empresas nortenhas ? Onde estão as sedes dos bancos nascidos no Norte ?

É por demais óbvio que a oligarquia (política e empresarial) está contra a perda do poder centralizado nas margens do Tejo.
Quando, por circunstâncias que lhe são estranhas, tiverem que ceder a uma descentralização, decidirão por um esquema regional que mais não será que um criar empregos e subvenções para os "políticos da praça" e montar uma pseuda administração local.

E isso é uma falácia, um engano, uma burla demagógica…

Os políticos que até hoje têm sido simples títeres de um poder centralizado, não se vão converter (por arte de magia) em consequentes regionalistas.
Sejamos conscientes que as organizações políticas, há mais de trinta anos alternando-se no poder, nada fizeram para que a Regionalização avançasse !
Somente os ingénuos podem manter confiança nessas instituições.

Devemos actuar fora da "jaula política", senão nunca teremos liberdade de movimentos.

Sejamos claros e directos : não nos interessam as soluções apresentadas pelos políticos, nem a sua participação !
Somente os aceitaremos como individuos, como colaboradores livres de dependências partidárias.

A nossa organização deverá fundamentar-se na sociedade civil… não nas estruturas políticas enfeudadas ao poder centralizador.
E a sociedade civil não tem socialistas, social-democratas, comunistas ou fascistas, mas sim individuos, operários e técnicos, profissões liberais e funcionários públicos, estudantes e professores, homens e mulheres…
Unidos no propósito de desenvolver a comunidade onde vivem e compartilham penas e alegrias !

Através de associações, grupos, colectividades e fundações, lancemos as bases de um "Movimento Cívico" capaz de impor a decisão de um povo que recusa acatar cobardemente as decisões de grupos políticos que, em trinta e três anos, já manifestaram toda a "grandiosidade" da sua corrupção e da sua inépcia.

As vitórias conquistam-se !

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Preservar um Parque Natural ?


"atão", e os negócios…?

Quem se interessa pela Natureza e se preocupa em preserva-la aceita, apesar de o considerar "timido" e "incompleto", o Plano de Ordenamento do Parque Natural de Montesinho, uma área protegida criada há cerca de 20 anos.
Parque Natural de Montesinho : http://:pnmontesinho.blogspot.com/

Os Parques Naturais, que ainda são verdadeiros oásis de vida e tranquilidade, estão cada vez mais no colimador dos promotores de negociatas (obviamente de "interesse público") e atacados pela fúria devastadora do cimento e do asfalto, sem falar da moda das "ventoinhas" que transformam os nossos montes em ouriços-caxeiro…

Porém, aos políticos que temos, "ínclitos utilitaristas" capazes de sacar o "revólver" se ouvem a palavra "cultura", somente lhes interessa "aquilo com se compram os melões" !

Dentro da lógica parabólica desses "representantes do povo" :

- Para quê preservar o Parque Natural se (bem informada sobre o "interesse público" que move muitos autarcas) uma empresa irlandesa diz querer investir 200 milhões de euros em projectos de energia eólica ?

- Para quê preservar o Parque Natural se existe um projecto para construir uma ligação, em perfil de Itinerário Principal (IP), entre Bragança e Puebla de Sanabria (Espanha), cortando bosques, poluindo irremediavelmente ribeiros e vertendo cimentos e asfalto onde agora é fauna e flora ?

- Para quê preservar o Parque Natural se uma nova barragem (das Veiguinhas) inundaria a paisagem convertendo-a em mais um lago onde os espanhóis poderiam vir pescar (como já o fazem em Alqueva) ?

Consta que os 14 autarcas de Bragança, cujas freguesias estão inseridas na área protegida e representam 60% do seu território, estão contra a proposta do Plano de Ordenamento, e alguns deles consideram que o melhor é terminar de vez com o Parque de Montesinho…

Como têm razão essas notabilíssimas sumidades…
Como vão preocupar-se com faunas e floras, que não pagam impostos, nem fazem turismo, nem consomem as especialidades nocturnas da zona ?
O negócio é vida… e para árvores, que se plante eucalipto. Sempre se vendem às celulosas e quando ardem cheiram bem…

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Assim se entende a gente ! (5/5)



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as vitórias conquistam-se
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Entre as variedades diatópicas de uma língua, distinguimos, segundo ensina Paiva Boléo (1904-1992), "dialecto" e "falar".
"Dialecto" será um sistema de sinais vocálicos e gramaticais que se afasta de uma língua comum e, regra geral, está confinado a um espaço geográfico bem delimitado.
"Falar" é uma variedade regional da língua "oficial", sem o grau de coerência do dialecto, e normalmente assente numa diferenciação léxica e ortoépica.
Porém, dialectos e falas são expressões culturais que nos foram transmitidas de geração em geração, uma herança que nos incumbe preservar, frente às modas pacóvias do "chiquismo" provinciano.

Os portugueses, eufeudados por séculos de centralismo redutor e intelectualmente castrante, acabaram por adquirir, mais por carácter que por temperamento, mais por contágio social que por tradição cultural, uma exacerbada tendência em considerar a verborreia com origem nos centros de decisão política como exemplos a seguir. É o principio da "cassette" ou do "his master's voice" !

Às possíveis expressões culturais, reflexo de vivências diferenciadas dos povos habitando territoralidades dispersas do Minho ao Algarve, impõe-se a moda da capital cosmopolita que, etiquetando as manifestações regionais de provincianismo bacoco, mantém uma visão saloia desde uma perspectiva obtusa centrada na Babilónia-sobre-o-Tejo, a quem só interessa um ideal de Imperium…

Porém, às nações que constituem o pais Portugal, cada vez mais se vai abrindo a perspectiva de se assumirem como entidades culturais capazes de criarem e desenvolverem projectos próprios sem necessidade de recorrer às "cacofónicas decisões dos pitonisos do Terreiro do Paço"

Numa perspectiva inteligente de cooperação, Portugal, rico das nações que o constituem, poderá ser um factor de desenvolvimento da desejada Europa dos povos.

Compete-nos a defesa do nosso património linguístico, privilegiar e incentivar o uso do nosso léxico, da nossa pronúncia, pois somente com o esforço de todos é possível afirmar a nossa identidade colectiva. Actuemos em conjunto, e sejamos dignos das nossas tradições, que nos compete entregar aos vindouros.

Objectivamente devemos lutar incansavelmente pela "regionalização".
Por uma verdadeira "regionalização", não por uma falácia administrativa para desfrute e gáudio da oligarquia

As vitórias conquistam-se !

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Assim se entende a gente ! (4/5)



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O "falar" Portucalense
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Na lingua falada em Portucale (galaico-portucalense), levada pelos "conquistadores" para o sul, nunca existiu o som "v" (de "vadio").
Os escribas medievais escreviam de forma idêntica a vogal "u" e a consoante "v".
No século XVI começam a distinguir a escrita entre "u" e "v", assim como também entre "i" e "j".
O grande desenvolvimento da impressão tipográfica, a partir do século XVIII, normalizou a escrita, embora ainda durante muito tempo se utilizasse o "v" no inicio das palavras e o "u" nas restantes posições, independentemente de considerações fonéticas.
Por exemplo, o verbo "ver" provém do latim "uidere" que passou a escrever-se "videre" e originou o actual vocábulo.

Devemos ter presente que o reino de Portugal surgiu como resultado da geoestratégia da Congregação de Cluny e, consequentemente, do Papado (hoje Vaticano), que optou pela constituição de pequenos reinos na Peninsula Ibérica.
Daí, a vinda dos cavaleiros-monges de Cluny, Raimundo e Henrique, que tinham como missão, perante Afonso de Leão, separar do seu reino os territórios de Galiza e Portucale.
Portucale (Minho, Douro e Trás-os-Montes), passou a incluir o condado moçarabe Conimbricense, de entre Douro e Mondego, um território culturalmente árabe, embora étnicamente constituido por árabes, visigodos e outros povos da peninsula que aí disfrutavam da característica cosmopolita que lhe fora inculcada pelo conde Sisnando, também designado pelo título árabe de “alvasil” ou “wasir”.
Mais a sul… estavam mouros e populações arabizadas !

Quem paga, manda, assim que Cluny e o Papa exigiram ao rei do ex-condado Portucalense a expulsão dos mouros que se mantinham a sul do rio Mondego.
Para facilitar o avanço para o sul (e por outras razões relacionadas com "Carquere"…) a capital de Portucale foi deslocada para zona lusitano-árabe (Coimbra) e mais tarde para território mouro (Al Xabuna ou Lisboa).

Habituadas à linguagem árabe, as populações foram-se adaptando à nova lingua, embora sem grande respeito pela ortoépia.

A passagem do "B" ao "V" fez-se por metaplasma de transformação-sonorização que, neste caso especifico, se denomina "degeneração".

Por exemplo, "caballu -> cabalo -> cavalo" e "populo -> pobo -> povo" e "faba -> fava", etc…

Estrangeirismos e neologismos vão abrindo novas formas, embora me horrorize a profusão de anglicanismos aplicados "a torto-e-a-direito" pelas novas gerações de plutocratas e congéneres (os do "hamburger e coca-cola").
E isto, sem esquecer a subversão gramatical da lingua, que dá pelo nome de brasileirismo.
Qual seria o nome que utilizariam Ramalho, Eça ou Camilo para significar quem pretende transformar a nossa lingua em dialecto caipira ?

Notemos pois que a pronúncia dos "Vs" surge por "degeneração" dos "Bs"... e NÃO o contrário !!!

O correcto, numa perspectiva histórica, é a pronúncia do Norte que, para os nortenhos, deve ser considerada um factor de identidade cultural.

Por exemplo, em Espanha diversas regiões falam o castelhano com sotaques próprios, e defendem a sua pronúncia ("Andaluzia", "Canárias" ou "Aragão").
Tal como diferem os sotaques franceses de "Paris", da "Provence" ou da "Auvergne", de "Bruxelas" ou de "Genéve".
Ou as pronúncias inglesas em "Londres", em "Edimburgo" ou "Liverpool".

Defender e fazer prevalecer a nossa lingua, de origem galaica (Gallaecia), com o sotaque que a caracteriza, e nos identifica, é um posicionamento cultural nacionalista.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Assim se entende a gente ! (3/5)



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o "falar" Lisbonense

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Na verdade não é preciso ser especialista para verificar as evidentes particularidades do falar lisbonense que se expande sob a poderosa influência da rádio e da televisão, absorbido pela mentalidade pacóvia ambiente, tornando-se dominante em grandes áreas do pais incluindo o Norte que, decididamente, anda muito distraido.

Por exemplo, "piscina" diz-se "pichina", "disciplina" diz-se "dichiplina".
E a mesma anomalia de pronúncia se verifica geralmente em todos os grupos "sce" ou "sci":
"crecher" em vez de "crescer", "seichentos" em vez de "seiscentos", e assim por diante.

O mesmo sucede quando uma palavra terminada em "s" é seguida de outra começada por "si" ou "se".
Por exemplo, na expressão "os sintomas" sai algo parecido com "uchintomas", "dois sistemas" como "doichistemas".
Ainda na mesma linha a própria pronúncia "de Lisboa" soa tipicamente a "L'jboa".

Outra divergência notória tem a ver com a pronúncia dos conjuntos "-elho" ou" -enho", que soam cada vez mais como "-ânho" ou "-âlho", como ocorre por exemplo em "coelho", "joelho", "velho", frequentemente ditos como "coâlho", "joâlho" e "vâlho".

Uma outra tendência cada vez mais vulgar é a de comer os sons, sobretudo a sílaba final, que fica reduzida a uma consoante aspirada.
Por exemplo: "pov'" ou "continent'", em vez de "povo" e de "continente".
Mas essa fonofagia não se limita às sílabas finais.
Se se atentar na pronúncia da palavra "Portugal", ela soa muitas vezes como algo parecido com "P'rt'gâl".

O que é mais grave é que esta forma de falar lisboeta não se limita às classes populares, antes é compartilhada crescentemente por gente letrada e pela generalidade do mundo da comunicação audiovisual.

E digam-me, por favor, que tem esta pronúncia de melhor que a do Norte, sem "Vs" e com o "ão" pronunciado como "om" ?
Pelo contrário, o "falar do Norte" está muito mais próximo do galaico-portucalense, que é a lingua original que ensinamos às gentes do Sul.

Enfim, são particularidades linguísticas perfeitamente compreensíveis.
Mantenham eles a pronúncia que têm e, quanto a nós (nortenhos), mantenhamos a nossa.
Chama-se a isso "preservar a identidade" !

terça-feira, 12 de junho de 2007

Assim se entende a gente ! (2/5)



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modos de falar
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Os falares ou variantes da língua Portuguesa integram-se na língua histórica nascida na velha Gallaecia romana, que chegava até ao Mondego (até ao Vouga na época pré-romana), e que significava já, para além da homegeneidade que o latim concedia à escrita, uma variabilidade na lingua falada (ortoépia e léxico).
Em certas regiões desenvolveu-se mesmo um vocabulário próprio, como o seguinte exemplo da fala em Pampilhosa da Serra:
- em falar local - No cabeço, estava a cabraneta espalheirada, espernalgada, junto do atrelado, um achadiço bazaroco e abjola, encavacado e encorculhado !
- em lingua "oficial" - No cimo do monte, estava a leviana deitada, de pernas abertas, junto do namorado, um estrangeiro parvo e sem geito, envergonhado e encolhido !

Em 1893/97, José Leite de Vasconcelos propõe, no seu Mapa Dialectológico (primeira obra de dialectologia da língua portuguesa), uma classificação («Mapa Dialectológico do Continente Português». Portugal Dialectológico - 1897), da variação diatópica de Portugal Continental.
Esta variação organiza-se em três tipos de variedades: primárias ou dialectos, secundárias ou subdialectos e terciárias ou, simplesmente, variedades

Como variedades primárias ou dialectos reconhecia, o seu estudo,

1. o dialecto Interamnense —falado na região entre o Minho e o Douro—,
subdialectos
alto-minhoto —entre o Lima e o Douro—,
baixo-minhoto —entre oLima e o Douro até ao Tâmega—
variedade do Porto e a variedade da Póvoa;
baixo-duriense —entre o Tâmega e oCorgo

2. o dialecto Trasmontano —falado em Trás-os-Montes—,
o subdialecto da fronteira,
a linguagem de Macedo e a do Mogadouro
e o subdialecto alto-duriense-entre o Corgo e oTua,

3. o dialecto Beirão —falado na Beira—
o subdialecto da Beira Ocidental,
o subdialecto alto-beirão-entre o Douro e o Dão,
o subdialecto baixo-beirão
e o subdialecto de Fundão, Castelo Branco... até Portalegre

4. o dialecto Meridional —falado entre o Mondego e o Guadiana.
os subdialectos estremenho,
a variedade de Lisboa,

5. o dialecto alentejano
variedade de Sor-Avis e de Olivença

6. o dialecto do "Algarbe".

nota :
o mirandês não é considerado galaico-português, mas sim leonês
A Lei nº 7/99 de 29 de Janeiro Decreto N.º 303/VII é o reconhecimento Oficial de Direitos Linguísticos da Comunidade Mirandesa

Chegando à Península Ibérica em 218 EP (Era Precedente), os romanos trouxeram com eles a língua romana popular, o latim vulgar, de que todas as línguas românicas (também conhecidas como "Línguas novilatinas", ou, ainda, "neolatinas") descendem.
Já no século II EP, o sul da Lusitânia estava romanizado. Estrabão, um geógrafo da Grécia antiga, comenta num dos livros da sua obra Geographia:
"Eles adoptaram os costumes romanos, e já não se lembram da própria língua."
A língua tornou-se popular com a chegada dos soldados, colonos e mercadores romanos, que construíram cidades romanas normalmente perto de povoados já existentes.

A partir do século V EA (Era Actual) o Império Romano entra em colapso e a Península Ibérica é invadida por povos de origem germânica, que os romanos denominavam "bárbaros" (termo de origem grega que significava "aqueles que falam de forma ininteligível").
De entre os povos "bárbaros", os suevos e os visigodos adoptaram a lingua latina-romana mas, com o desaparecimento da administração romana, as comunidades começaram a evoluir o latim popular de forma diferenciada e a uniformidade linguística da Península, pretendida pelos romanos, apesar dos esforços da Igreja (que "ocupou", na forma, a administração romana), rompeu-se durante a Idade Média.
Por toda a Peninsula foram surgindo evoluções especificas do latim-romano (linguas "romance" ou "románicas"), com maior ou menor influência das linguas pré-romanas que ainda sobreviviam, principalmente no meio rural.

No século VIII EA, com a chegada às costas mediterráneas da Peninsula, desde o norte de África, de povos islamizados (mouros, árabes, berberes e descendentes de emigrantes visigodos) o árabe tornou-se a língua de administração das áreas por eles ocupadas, exercendo uma intensa influência linguística-cultural nos povos locais.

Porém, nem todas as regiões foram "tocadas" por igual e, no caso do norte da costa atlântica (Gallaecia), a influência árabe-islâmica foi diminuta.
Mais para o sul do Vouga a população foi gradualmente mais aculturada pelo islamismo e os seus falares foram influenciados por enorme quantidade de arabismos que a posterior monarquia portuguesa (com sede em Lisboa) introduziu na lingua portuguesa oficial.

Documentos administrativos datando do século IX revelam, na região da Gallaecia, a existência de uma lingua "romance" (ainda entremeada de termos em latim).
Essa lingua foi falada entre o Finisterra e o Mondego até que, após a constituição do Condado Conimbricense, a influência árabe de Toledo fixa no rio Douro a fronteira sul do território galaico.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Assim se entende a gente ! (1/5)



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contra as normalizações
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Um grupo de linguistas mandatado pela Unesco alertou para o desaparecimento de linguas minoritárias que, desde os anos 90 do século passado, se processa a um ritmo sem precedentes.
Dentro de um século, 60 % desta riqueza cultural (constituida por cerca de 5.000 linguas) poderá ter desaparecido se se mantiver a corrente média de vinte a trinta linguas desaparecidas cada ano.

Cerca de 96 % da população mundial fala apenas 4 % das linguas existentes e, inversamente, 4% da população fala 96% dos idiomas existentes, uma tendência que confirma uma lenta, mas evidente perda da diversidade.

Desde a Alta Antiguidade que se observa o desaparecimento de linguas, como por exemplo o sumério falado na Mesopotâmia no 4ª milénio antes da Era Actual (EA).
Uma lingua não-semita (nem indo-europeia) que, rodeada de povos de expressão semita, se esvaeceu para sempre, num processo histórico inexorável incluido nas vicissitudes do fluxo-refluxo dos conflitos de interesse entre povos. Porém, desde o inicio dos anos 1990, a globalisação dos mercados, o hábito compulsivo de viajar, a emergência de sistemas de informação englobantes e a moda da actividade frenética, aceleraram o "processus" de normalização, desenvolvendo a linguagem veícular, a linguagem conjuntural impondo a perda sustentada da linguagem como suporte cultural.

Com a retirada do poder politico dos Estados europeus, os novos países de África, América e Ásia iniciaram a construção de identidades nacionais ficticias para manter as fronteiras coloniais, as que satisfaziam os interesses das "multi-nacionais".
Tal como séculos antes na Europa, os povos foram amalgamados em populações sem o minimo respeito pela expressão cultural de qualquer deles e, obviamente, o património linguístico foi um dos mais perjudicados, atendendo ao afã dos políticos de turno em "normalizar para melhor controlar".

Na Europa, como mencionamos, o amalgama de povos concentrados em Estados-nação, provocou igualmente um empobrecimento linguístico provocado pelo interesse politico das oligarquias em "anular" toda e qualquer manifestação centrífuga relativamente ao poder-central, o que vai deteriorando as linguas não consideradas como "oficiais" pelo centralismo-politico, o que leva a considerar em perigo de desaparecimento as linguas basca, bretã, corsa, gaélica, galaica, lombarda e sami (norte da escandinávia).

Os povos europeus, submetidos à avassaladora propaganda difundida pelos meios de comunicação controlados pelos Estados centralizadores, deixam de transmitir às novas gerações as suas próprias linguas com receio que essa expressão seja um obstáculo à integração nos circuitos económicos preponderantes e constitua um factor de marginalização.

Dentro do citado processo de construção dos países, também se perdem dialectos e ortoépias em favor de linguagens normalizadas impostas pelos centralismos das capitais políticas.
Com efeito, dentro de uma mesma lingua, coexistem expressões idiomáticas particulares ao núcleo cultural que a utiliza, falares e ortoépias diferenciadas que são uma imperdível riqueza da diversidade linguística popular.

Em Portugal, pense-se na diferença de pronúncia, de sotaque ou de linguajar no norte, que mantém a original pronuncia "b" face ao "v" da linguagem "construida" a sul do Vouga, ou a persistência do ditongo "ei" face ao sotaque do sul, onde é subsumido ("ribero" em lugar de "ribeiro", etc.), ou no ditongo "ou" que muda para "oi" (ouro/oiro).
A pronúncia do "s" Beirão, os dialectos de Castelo Branco e Portalegre ou do barlavento algarvio, ou de Olivença, as variáveis em vocalismo e consoantes, etc., que Fernão de Oliveira informa na sua "Gramática de Linguagem Portuguesa", em que verifica o fenómeno, no sul, de engolir as vogais.

As divergências entre os falares de norte a sul e do interior ao litoral, não afectam a unidade estrutural linguístico da faixa atlântica da Galiza-Portugal e devem ser respeitadas, principalmente pelos mais interessados, que são aqueles que assim se expressam.

Uma chamada de atenção para o facto de que :
1. o "mirandêz" é uma lingua com direito próprio (decreto lei de 29/01/1999);
2. o galego "tradicional" mantem falares que são autênticas relíquias do galaico-português;
3. o galego "oficial" (inventado na época de F. Albor, 1º presidente da Xunta de Galicia) é uma "coisa" castelhanizada que nem chega a "portunhol";
4. o brasileiro é uma descaracterização do portugués que não deve, de forma alguma, influenciar a nossa escrita nem a nossa ortoépia;.
5. se, como intentam os governos centrais, o galego continuar a espanholizar-se e o português a prosseguir a sua brasileirização, dentro de uns anos qualquer semelhança entre o galego e o português será "pura coincidência".
6. se os Palop estão interessados em falar e escrever o português, ajudemos a que o aprendam, com renúncia a qualquer concessão gramatical ou vocabular.
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continua para 2/5 : "modos de falar"

terça-feira, 5 de junho de 2007

Regionalização ...



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ou
continuaremos servos !
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"O investimento no 1º Ciclo e pré-escolar na região de Lisboa e Vale do Tejo vai contar com 30 milhões de euros de fundos comunitários, valor que será duplicado pela contrapartida nacional, anunciou hoje a ministra da Educação.

Mª de Lurdes Rodrigues falava aos jornalistas no final de uma reunião com a Junta Metropolitana de Lisboa sobre a recuperação do parque escolar e os instrumentos de financiamento no âmbito do Orçamento de Estado e do Quadro de Referência Estratégico Nacional, que vai enquadrar a aplicação dos fundos comunitários de 2007 a 2013."

in "Público" de 05/06/2007
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comentário:
Entretanto, na provincia do Terreiro do Paço continuam a fechar-se escolas…
Despertemos "provincianos" !
Ou conquistamos a "regionalização" ou … emigramos para "terras saloias".

sábado, 2 de junho de 2007

Regionalização !




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… necessária
mas sem falácia !




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Carlos Lage, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte, defende que uma "nova consulta "é inevitável. "Para tomar a decisão no Parlamento, era preciso rever a Constituição e retirar a obrigatoriedade. Isto implica um consenso muito alargado entre as forças políticas. Não me parece viável".

O Prof. Freitas do Amaral, na sua última aula na Universidade Nova declarou, na presença do 1º ministro sr. Pinto de Sousa, que a não realização do "Referendo" previsto na Constituição deve ser considerado "uma ilegalidade por omissão".

O Prof. José Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto, afirmava em recente entrevista ao "JN":
Os empresários e os artistas vão todos para Lisboa. Às vezes, interrogo-me se estão à espera de algum deus que venha criar as condições na região.(…)
E seria interessante que os que daqui saíram, a diáspora da região, regressassem. Talvez seja ingenuidade? Se é, então desistimos, ficamos com um país macrocéfalo que tem apenas um grande centro em Lisboa e deixamos de nos queixar."

"Lisbonização da Política de Coesão (com a UE)"!
E quem o afirma não é nenhum "perigoso nacionalista", mas sim o sr. Durão Barroso, presidente dessa mesma UE, em entrevista concedida ao "JN".

"A opção centralista nacional, "violando há trinta anos, por omissão, o imperativo constitucional de regionalizar o país", nas palavras de Freitas do Amaral, deixaram-nos sem níveis institucionais democraticamente legitimados, capazes de agregar vontades, organizar propostas, influenciar competente e credivelmente opções de política, gerir alguns dossiers e lançar obras de nível supra-municipal.", afirmou a srª Elisa Ferreira, eurodeputada pelo PS.

De todas estas afirmações retira-se a conclusão de que para além de ilegal, a omissão da regionalização perturba (e anula) o indispensável desenvolvimento do conjunto do País

Porém, não nos deixemos enganar, a regionalização comentada actualmente pelos políticos insere-se num contexto meramente administrativo e consentâneo com a sua continuidade como oligarquia nacional com funções delegadas nas Regiões.
E isso não é "regionalização", mas sim uma falácia, uma mais que nos querem impingir.

A "regionalização" impõe-se essencialmente por quatro factores:

1. de ordem cultural
pelas tradições, costumes e "falares", patrimonio cultural de várias regiões, em vias de esvaecimento pela pressão normalizadora com origem no Estado, que a provoca desde os meios de comunicação (rádio, Tv e imprensa) e pela manipulação do ensino na disciplina de História.

2. de ordem administrativa
pela dependência da burocracia estatal relativamente às decisões de processos administrativos, exageradamente tomadas desde o omnipresente centralismo "da capital".

3. de ordem económica
pela total subalternidade aos projectos e decisões de um governo central alheio às realidades económicas, às exigências e carências de populações que, cada vez mais, são atingindas pelo desemprego e pela falta de recursos.

4. de ordem política
pela evidente irresponsabilidade dos governos que legislam e executam como se os povos da periferia fossem feudos do Terreiro do Paço.

Sem meios de comunicação locais, sem autonomia administrativa, sem políticos locais, não dependentes de organizações políticas sediadas na "capital", a "regionalização" continuará pendente.
E nós devemos continuar a exigi-la !