quinta-feira, 14 de junho de 2007

Assim se entende a gente ! (4/5)



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O "falar" Portucalense
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Na lingua falada em Portucale (galaico-portucalense), levada pelos "conquistadores" para o sul, nunca existiu o som "v" (de "vadio").
Os escribas medievais escreviam de forma idêntica a vogal "u" e a consoante "v".
No século XVI começam a distinguir a escrita entre "u" e "v", assim como também entre "i" e "j".
O grande desenvolvimento da impressão tipográfica, a partir do século XVIII, normalizou a escrita, embora ainda durante muito tempo se utilizasse o "v" no inicio das palavras e o "u" nas restantes posições, independentemente de considerações fonéticas.
Por exemplo, o verbo "ver" provém do latim "uidere" que passou a escrever-se "videre" e originou o actual vocábulo.

Devemos ter presente que o reino de Portugal surgiu como resultado da geoestratégia da Congregação de Cluny e, consequentemente, do Papado (hoje Vaticano), que optou pela constituição de pequenos reinos na Peninsula Ibérica.
Daí, a vinda dos cavaleiros-monges de Cluny, Raimundo e Henrique, que tinham como missão, perante Afonso de Leão, separar do seu reino os territórios de Galiza e Portucale.
Portucale (Minho, Douro e Trás-os-Montes), passou a incluir o condado moçarabe Conimbricense, de entre Douro e Mondego, um território culturalmente árabe, embora étnicamente constituido por árabes, visigodos e outros povos da peninsula que aí disfrutavam da característica cosmopolita que lhe fora inculcada pelo conde Sisnando, também designado pelo título árabe de “alvasil” ou “wasir”.
Mais a sul… estavam mouros e populações arabizadas !

Quem paga, manda, assim que Cluny e o Papa exigiram ao rei do ex-condado Portucalense a expulsão dos mouros que se mantinham a sul do rio Mondego.
Para facilitar o avanço para o sul (e por outras razões relacionadas com "Carquere"…) a capital de Portucale foi deslocada para zona lusitano-árabe (Coimbra) e mais tarde para território mouro (Al Xabuna ou Lisboa).

Habituadas à linguagem árabe, as populações foram-se adaptando à nova lingua, embora sem grande respeito pela ortoépia.

A passagem do "B" ao "V" fez-se por metaplasma de transformação-sonorização que, neste caso especifico, se denomina "degeneração".

Por exemplo, "caballu -> cabalo -> cavalo" e "populo -> pobo -> povo" e "faba -> fava", etc…

Estrangeirismos e neologismos vão abrindo novas formas, embora me horrorize a profusão de anglicanismos aplicados "a torto-e-a-direito" pelas novas gerações de plutocratas e congéneres (os do "hamburger e coca-cola").
E isto, sem esquecer a subversão gramatical da lingua, que dá pelo nome de brasileirismo.
Qual seria o nome que utilizariam Ramalho, Eça ou Camilo para significar quem pretende transformar a nossa lingua em dialecto caipira ?

Notemos pois que a pronúncia dos "Vs" surge por "degeneração" dos "Bs"... e NÃO o contrário !!!

O correcto, numa perspectiva histórica, é a pronúncia do Norte que, para os nortenhos, deve ser considerada um factor de identidade cultural.

Por exemplo, em Espanha diversas regiões falam o castelhano com sotaques próprios, e defendem a sua pronúncia ("Andaluzia", "Canárias" ou "Aragão").
Tal como diferem os sotaques franceses de "Paris", da "Provence" ou da "Auvergne", de "Bruxelas" ou de "Genéve".
Ou as pronúncias inglesas em "Londres", em "Edimburgo" ou "Liverpool".

Defender e fazer prevalecer a nossa lingua, de origem galaica (Gallaecia), com o sotaque que a caracteriza, e nos identifica, é um posicionamento cultural nacionalista.

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