segunda-feira, 30 de abril de 2007

O mito de Alfonso Anriques





5. Portugal :
nações amalgamadas num País
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A observação dos factos históricos, e fundamentalmente os processos que medeiam a fixação e transmissão dos mesmos, levam-nos a perceber melhor os mecanismos que contribuem para a definição do corpo identitário de uma "Nação" (território + povo + lingua) e, no caso português, como a partir de um "Estado" se inventa uma pretensa "Nação", que na realidade nunca passou de um "País" e uma "População".

Sensivelmente a meados do século XIX Alexandre Herculano, refuta os textos da tradição historiográfica renascentista (que entendia o Reino de Portugal como o prolongamento histórico da Lusitânia), e avança com a ideia de que Portugal tinha, na contemporaneidade, por antepassados comuns a Galiza, os territórios da Estremadura espanhola e Andaluzia.
Deduzia Herculano, um Portugal nascido de um processo em que questões de ordem política se sobrepõem a determinismos geográficos, étnicos ou linguísticos.

Oliveira Martins define o processo de independência de Portugal como fruto das vontades e da ambição dos senhores feudais, resultando de factores mais casuais que de condicionalismos geográficos ou de uma proto-identidade nacional.

Para Teófilo Braga, é erróneo considerar D. Henrique, D. Teresa e D. Afonso Henriques os pais da nacionalidade, devendo-se colocar o berço desta muito antes da fundação formal do reino português.

Porém, a produção historiográfica desenvolvida a partir das últimas décadas do século XIX e dos primeiros anos do século XX, época marcada por acontecimentos que manipulam o sentimento patriótico ("ultimatum inglês", "regicidio", "república", etc), rompe com as correntes de investigação anteriores, arqueológicas, antropológicas e linguísticas.
O progressivo fortalecimento das estruturas republicanas e a profícua actividade intelectual das mesmas, moldada por um discurso e um sentimentalismo de índole patriótico-nacionalista, podem estar por detrás da definição das raízes na nacionalidade portuguesa para além do século XII.

Para Alfredo Pimenta, o sentimento nacionalista e a identidade portuguesas consolidam-se à medida que o “Estado” se fortalece politicamente, conforme as fronteiras se fixam (o efectivar definitivo desse sentimento dá-se apenas no século XIV).

Se era evidente uma homogeneidade étnica e cultural do povo que ocupava a Gallaecia (Galiza, Asturias e Condado Portucalense), constituintes de uma verdadeira Nação, o alargamento para o sul do Vouga, principalmente para sul do Mondego, fez-se pela incorporação de etnias diferenciadas (lusitanos e mouros).

Para citar a opinião de Damião Peres, o nascimento de Portugal surge a partir de actos de natureza política, mais concretamente da formação de uma unidade politico-territorial autónoma, que, à medida que se perpetuava independente, conforme ia passando por dificuldades, vê desenvolver no seu seio um sentimento de pertença, uma devoção... e do Estado nasce um conceito de Nação.
Mais, segundo este autor, o facto de a doação do Condado Portucalense a D. Henrique vai pressupor direitos de transmissão hereditária, uma determinação política que condiciona o desenvolvimento de um estatuto de autonomia para aquela parcela de território.

Concordante com a visão de Damião Peres é a opinião de José Mattoso, que vinca o facto não se poder fundamentar em exclusivo a fundação de Portugal em factores geográficos.
Com efeito, o processo de emancipação de Portugal é um fenómeno politico-religioso, não o fruto de uma afirmação cultural.
Antes da Nação portuguesa temos um Estado, e é o encadear de eventos históricos que definem a evolução da nacionalidade.
Este fenómeno, que foi pouco perceptível devido ao enriquecimento da burguesia urbana na época dos "descobrimentos", passou a uma flagrante evidência a partir do século XVIII.

As criticas de Eça, Ortigão ou Junqueiro, são demonstrativas de um Estado que, como Nação, foi e é, uma manta de retalhos.
Pretender "inventar" uma Nação a golpes de "lusitanismo", "cristianismo", "império" e democracia de circunstância, só pode ter como resultado… a situação que vivemos.

" … um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional…
Guerra Junqueiro, in "Pátria" - 1896

Como afirmação cultural, resta re-inventar Portucale e, consequentemente, também a Gallaecia.

final

domingo, 29 de abril de 2007

O mito de Alfonso Anriques








4. A geoestratégia de Cluny
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Considerando a instabilidade da instituição Papal, a ordem monástica beneditina de Cluny, fundada em 909, surge como um factor de regeneração da Igreja.
Não esqueçamos acontecimentos como os do "Sínodus Horrenda", pelo qual o Papa Estevão VI (897) desenterra um seu predecessor (Papa Formoso), faz julgar o cadáver, manda cortar-lhe três dedos e lança-lo às águas do rio Tibre…

Cluny faz entronizar os seus próprios Papas (cenobitas da Abadía de Cluny) e desenvolve uma estratégia política que, na Peninsula Ibérica, passa por duas importantes estruturações:
1- no cumprimento do mito cristão, pretende consolidar a veneração ao "apóstolo Jacobo (Iago - Santiago).
2- na consecução da "Reconquista" insiste em prosseguir no combate aos "árabes" (mouros ou sarracenos).

Para melhor compreensão da importância atribuida pela Ordem de Cluny a Santiago, e sua vinculação à Galaecia, façamos uma sucinta leitura da enigmática reivindicação que os textos cristãos fundadores (Evangelhos) fazem para os filhos de Zebedeo, Yaakob (Iago) e Yohanan (João), de um lugar respectivamente à direita e à esquerda de Cristo, e que situa os dois irmãos numa perspectiva Solar.
A direita e a esquerda de Cristo (simbolo Solar) significam o oriente (nascente) e o ocidente (poente), representados respectivamente pelo Papa (bispo de Roma), Ásia Menor (Eféso) relacionada com João, e pelo "Finis Terrae" (Finisterra) lugar de Tiago.
Esta interpretação figura expresamente num hino do século VIII (que inclui o acróstico Mauregat, rei asturiano : 783-789), e é retomada pelo sermão "Exultemus" do "Livro de S. Tiago" (I, XV) - "Codex Calixtinus", e representa a visão da época asturo-galega (ou anterior) para compreender a citada reivindicação do texto evangélico, numa época em que se preparava a relação de Santiago com a "Finisterra" galega, antes do "descobrimento" do túmulo do apóstolo.
Este e Oeste têm sentido como nascente e poente solar (no seu movimento aparente), pelo que, atribuindo a João o nascente, atribui-se a Tiago o poente, ou seja, o extremo ocidental da Europa, onde a Terra termina.
Santiago será pois a personificação cristã do Sol poente.
Por outro lado, se cada um dos dois irmãos (João e Iago) possui uma metade do percurso do Sol, obviamente é no apogeu desse movimento que se passa de João a Iago, nascendo este no momento em que o Sol está no ponto mais elevado do seu percurso (aparente).
Esse momento será, na escala do dia, ao meio-dia, e à escala do ano, no momento da Canícula, expressão de origem romana que designa a data de 25 de Julho (data em que a Igreja festeja o dia de Santiago).
nota : no império de Roma, a Canícula corresponde às festas de Neptuno e Mercúrio e vão do 23 ao 25 de Julho.

Tenhamos presente que muito antes do cristianismo se manifestar, já existia para os celtas um "caminho" ("labirinto iniciático") que terminava justamente onde "acaba a terra e o mar começa", num promontório da Gallaecia (Finisterra), a alguns quilómetros da actual Santiago de Compostela.
A denominação do território consolida-se em 239 da Era Actual, com a reforma administrativa empreendida por Diocleciano que estrutura a provincia de Gallaecia, segregando-a da Tarraconensis, e abarcando os "conventus" Bracarensis (Braga), Asturiacensis (Astorga) e Lucensis (Lugo).

Constatada a importância atribuida pelo cristianismo em situar Tiago (Iago) próximo da "Finisterra", por observância ao esoterismo evangélico (fundamentado numa mitologia muito anterior), é mais fácil compreender que Cluny, para lançar uma campanha activa contra os "infiéis" (muçulmanos) que permaneciam mais para sul do território, necessitava de "especializar" as suas acções.
O objectivo foi pois, desenvolver um centro de apoio ao "farol cristão do ocidente", fazendo descobrir um túmulo num antigo cemitério romano ("arca marmórica"), construindo uma capela e denominando o local como Compostela ("compositum tellus" = lugar de enterramento, segundo refere Amor Ruibal) que posteriormente tomou o nome de S. Jaime (uma derivação do latim Jacobus ; hebreu Yaakob), e depois Santiago de Compostela, que o arcebispo Gelmirez converteu num importante foco da religiosidade cristã.
Como se sabe, as "reliquias" de Santiago somente em 1884 foram reconhecidas como autênticas pelo Papa Leão XIII (bula "Omnipotens Deus").

A potenciação religiosa de Santiago rapidamente originou um ambiente de conflito politico-religioso entre Braga e Compostela.
A separação impunha-se e a Ordem de Cluny enviou dois monges-cavaleiros (Raimundo e Henrique) para participarem com o rei de León na "necessária" (segundo Cluny) reestruturação do território.
Compostela orientar-se-ia à implantação da reivindicação evangélica, enquanto Braga apoiaria a criação de um novo reino dedicado à "Reconquista".

Contrariamente à tradicional historíografía portuguesa, não foi a movimentação para fundar um reino independente no sul da Galicia que levou Braga a enfrentar-se a Compostela, mas sim a rivalidade entre elas (fomentada por Cluny) que gerou o mais poderoso elemento para a emergência de um reino originado no Condado Portucalense, neutralizando as proximidades culturais entre os dois territórios "unidos pelo rio Minho", mais tarde aproveitado pela monarquia lusitana para desenvolver um factor geográfico de separação.

Cumprindo com os propósitos de Cluny, o arcebispo Gelmirez tudo fez para conseguir um reino galego independente, com o que pretendia auxiliar o futuro rei Afonso VII de León, que ele mesmo entronizou em Compostela em 1111, convertendo assim em "definitiva" a separação da Gallaecia e originando um importante factor politico para a independência de Portucale.

próximo :
5. Portugal : nações amalgamadas num País

sábado, 28 de abril de 2007

O mito de Alfonso Anriques




3. Origem de Portugal
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Permitimo-nos transcrever (resumindo), e com a devida vénia ao autor, o que figura in "Crónicas dos Sete Primeiros Reis de Portugal", Edição Crítica, pelo Académico de Número Carlos da Silva Tarouca, S. J., Vol. I, Academia Portuguesa da História, Lisboa, M CM LII. (a grafia das palavras foi actualizada).
O autor das "Crónicas dos Sete Primeiros Reis de Portugal" é Rui de Pina, um cronista e diplomata portugués (1440 - 1522).
……..
" Depois que o Conde D. Anrique foi casado com Dª Tareja, filha del-Rei (D. Afonso VI de Castela, como dito é, vindo ela a emprenhar, D. Egas Moniz, (1) mui esforçado e nobre fidalgo (…) chegou a ele, pedindo-lhe que qualquer filho ou filha que a Rainha parisse, lho quisesse dar, pera o ele criar. E o Conde lho outorgou.
"E veio a Rainha a parir um filho, grande e fermoso, que não podia mais uma criatura, salvo que nasceu com as pernas tão encolheitas que, ao parecer de mestres e de todos, julgarom que nunca poderia ser são delas. (…)
Tanto que D. Egas Moniz soube que a Rainha parira, cavalgou depressa e veio-se a Guimarães, onde o Conde D. Anrique estava, e pedindo-lhe, por mercê, que lhe desse o filho que lhe nascera, pera o haver de criar, como lhe tinha prometido.
E o Conde lhe respondeu que não quisesse tomar tal cargo, que o filho que lhe Deus dera nascera, por seus pecados, tolheito de maneira que todos tinham que nunca guareceria, nem seria pera homem.
E D. Egas Moniz, quando esto ouviu, pesou-lhe muito e disse: -«Senhor, antes cuido eu que por meus pecados aconteceu isto. Mas, pois a Deus aprouve ser tal minha ventura, dai-me, todavia, vosso filho, quijando quer que seja».
E o Conde, posto que tivesse grande pejo, pelo bem que a D. Egas Moniz queria, de o encarregar em semelhantes crianças, por causa d’ aleigão da criança, contudo lha deu, por comprir (o que lhe tinha prometido).
E quando D. Egas vio a criança tão fermosa e com tal aleijão, houve mui grande dó dela. E, confiando em Deus, que lhe podia dar saúde, a tomou e a fez criar, não com menos amor e cuidado, que se fosse mui são.

E, jazendo D. Egas Moniz uma noite dormindo, sendo já o menino de cinco anos, lhe apareceu Nossa Senhora e disse:
-«D. Egas, dormes?»
E ele, dixe:
-«Senhora, quem sois vós?»
E ela disse:
-«Eu são a Virgem Maria, que te mando que vás a um tal lugar - dando-lhe logo sinais dele - e faz i cavar, e acharás uma igreja que, em outro tempo, foi começada em o meu nome, e uma imagem minha. Faz correger a igreja e a imagem, feita em minha honra. E isto feito, farás i vegília, poendo o menino sobre o altar, e sabe que guarecerá e será são de todo; e não menos te trabalha, daí avante, de o bem criar e guardar, como fazes, porque meu Filho quer, por ele, destruir muitos imigos da fé».
Desaparecida, ficou D. Egas Moniz mui consolado e alegre.
E, tanto que foi menhã, alevantou-se logo, e foi-se, com gente, àquele lugar que lhe fora dito. E mandou aí cavar, e achou aquela igreja e imagem, poendo em obra todas as cousas que Nossa Senhora mandava. À qual aprouve, por sua santa piadade, tanto que o menino foi posto sobre o altar, nada tivera.
(Vendo) D. Egas Moniz, este tamanho prazer e milagre, deu muitos louvores a Deus e à Senhora Sua Madre, criando e guardando, daí avante, com muito amor e cuidado, o menino, cujo aio foi sempre, até que seu pai morreu em Estorga, sendo ele já de tamanha idade que, nas guerras e todas outras fadigas, supria os cargos de seu pai.
E, por causa deste milagre, foi, depois, feito, em esta igreja, com muita devação, o moisteiro de Cárcare.
E como quer que alguns contem seu nascimento haver sido Ultramar, e bautisado no rio Jordão, porém, por mais verdade, achei ser seu nascimento em a maneira que dixe.(2) "

(1) Ver na História da Expansão Portuguesa no Mundo, I, Lisboa, 1937, p. 8: os fac-símiles das cartas de D. Afonso Henriques de 1139 e 1140 com as assinaturas «Ego Egas Moniz curiae dapifer», e as cartas daquele nas Memórias do Mosteiro de Paço de Sousa, ed. da Academia Portuguesa da História, Lisboa, 1942, p. 159.
-> "dapifer curiae", funções que aliavam a mordomia-mor com a vedoria.
(2) No cód. Cadaval 953, (Crónica G, do fim do séc XVI), encontramos, a seguir à palavra «Cárquere», o esclarecimento: «que é em cima do Douro, na Comarca da Beira».
Na actualidade a freguesia de Cárquere (941 hab. em 2001) insere-se no concelho de Resende, distrito de Viseu.
……..

Assim que :
1. para os crentes de que um "milagre" pode ser considerado um acontecimento histórico, sem dúvida alguma Alfonso Anriques (Afonso Henriques), o 1º rei de Portugal, é filho do Conde Henri de Bourgogne e de Dª Tareja ;

2. para os que têm capacidade de procesar o raciocinio critico, o individuo apresentado e protegido por Egas Moniz foi um usurpador, um impostor que ocupou o lugar que por direito sucessório, considerando o desaparecimento do herdeiro, era pertença da filha de Dª Tareja e do seu segundo marido, o Conde de Trastâmara.

3. muitos dos senhores feudais de Entre-Minho-e-Douro, assim como o bispo de Braga, estavam interessados no alargamento do território para o Sul, o que aos primeiros beneficiaria em termos de novas terras e ao segundo porque a influência de Santiago de Compostela era asfixiante para os seus projectos.

4. esta estratégia implicava um rei guerreiro, não um "tolheito" que não podia montar a cavalo, e menos ainda combater.

O "truque milagreiro" de Cárquere coloca no poder um protegido do sefardita Egas Moniz, e essa é a razão dos combates entre Alfonso e Dª Tareja, pois esta sabia que ele não era seu filho…
O verdadeiro filho do Conde Henri e de Dª Tareja, nasce em Guimarães, enquanto Alfonso, o usurpador, seria natural da região de Coimbra, filho bastardo de Egas Moniz, ou de algum próximo.
Em 27 de Maio de 1128 o Arcebispo de Braga e o Infante Alfonso lavram em Braga um importante documento. O Infante promete ao Arcebispo direitos sobre várias vilas e lugares, diversas isenções e alguns importantes privilégios. E acrescenta que tais concessões serão feitas, «logo que obtiver o governo de Portugal». E o documento a que nos atemos justifica ainda as liberalidades do Infante, ao dizer que elas se deviam à ajuda que ele receberia do Arcebispo.

A denominada Batalha de S. Mamede, travada em 24 de Junho de 1128, decidiu-se pela intervenção de tropas pagas por Gonçalo Mendes e seus irmãos, Soeiro Mendes e Paio Mendes (arcebispo de Braga), naturais da Vila do Trastamires (actual Maia), uma familia com antepassados mouros (Abou Nazar) e castelhanos (De Amaya ou Damaya).
Com efeito, porque as pequenas hostes revoltosas, presentes em nome do "falso infante", não ousavam atacar as tropas de Dª Tareja, já retiravam estas do local previsto para o encontro quando foram atacadas por surpresa, pelos flancos, por grupos armados que desorganizaram completamente o ortodoxo e rigido sistema do exército galaico.
A dificuldade ainda hoje existente em localizar "o local da batalha", deve-se a que não houve nenhuma batalha no sentido habitual de enfrentamento entre exércitos.
Em movimento de regresso à sua base, as tropas galaicas, incluindo muitos nobres portucalenses e suas tropas, foram fustigadas durante quilómetros. Não foi uma Batalha no sentido nobre do termo, mas um assédio guerrilheiro !

Recentemente, num "portal" da RTP dedicado ao concurso sobre grandes portugueses, era dito :
"Na mais shakespeareana das batalhas, Afonso Henriques, com 20 anos, qual jovem Hamlet, derrota os exércitos de D. Tereza e de Fernão Peres de Trava, e assume o governo do Condado Portucalense".
Nesta tentativa de transformar a História de Portugal numa telenovela caipira, se não nos enfrentamos a um voluntário insulto à inteligência, então estamos perante uma tentativa de institucionalizar a estupidez. E o pior, é que temos quem acredite !

As fantasmagóricas cortes de Lamego ou a lenda do encontro dos Arcos de Aldevez em 1140, entre as tropas de Alfonso Anriques e de Alfonso VII de Leão, transformado em Torneio ou em encarniçada batalha (dependendo da belicosidade do autor), são invenções para fazer crer que o impostor era aceite no Norte.

A 6 de Abril de 1129, através de uma carta de doação da Igreja de S. Bartolomeu de Campelo, Alfonso designa-se a si mesmo como Principe de Portugal (com 20 anos…).
Porém, ninguém reconhece tal titulo, pelo que, no ano de 1143, em Zamora, na presença do cardeal Guido de Vico, representante do Papa, Alfonso presta vassalagem ao bispo de Roma prometendo-lhe o pagamento de quatro onças de ouro em cada ano.
Oportunista, Alfonso VII, rei de Castela e Leão, aproveita para reconhece-lo como rei e, assim, tendo suzerania sobre um rei, passa a intitular-se Imperador !
Haverá que aguardar o ano de 1179 para Alfonso Anriques ser reconhecido como rei pelo Papa Alexandre III através da “Bula Manifestus Probatum“,… obviamente a Igreja conhecia o "milagre de Cárquere", e tardou em implicar-se.

Diz-nos Agustina Bessa-Luís, numa edição da “Guerra & Paz”, que "Salazar perguntava o que se há-de fazer dum país que começou com um filho a pôr a ferros a própria mãe".
Na realidade Dª Tareja não era a mãe de Alfonso, e por isso mesmo sempre combateu o impostor !

Meditemos numa frase de Alexandre Herculano, não tão enigmática como alguns pretendem :
“Há muitas vezes na História, ao lado dos factos públicos, outros sucedidos nas trevas, os quais, frequentemente, são a causa verdadeira daqueles, e que os explicariam se fossem revelados”.

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4. A geoestratégia de Cluny

sexta-feira, 27 de abril de 2007

O mito de Alfonso Anriques





2. Curiosidade e História
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Perante a curiosidade de tantos, de imediato surgem os ínclitos "historiadores de turno" jurando que não existe nenhuma dúvida e que a curiosidade manifestada é "uma concupiscência", tal como afirmava Blaise Pascal, um vicio moral, como referiram Alighieri Dante e Francesco Petrarca.
Porém, diz um provérbio que "quem teme a curiosidade dos outros… algo tem a esconder" !

Consideraros a curiosidade como uma sensibilidade orientada a compreender, como um impulso decisivo que abre a via do conhecimento racional, como defendiam Galileo Galilei, Giordano Bruno e Francis Bacon.
Tratemos pois, a curiosidade como uma capacidade de formular dúvidas, um meio para buscar a possivel tranquilidade, a necessária "eudaimonia" que resulta da supressão de uma suspensão de parecer (dúvida).
"A curiosidade, filha da ignorância, é mãe da ciência", afirmava Giambattista Vico, filosofo precursor da Filosofia da História, em "Scienza nuova", publicado em 1725.

Quando subsistem dúvidas, rever a História é certificar-se de que nos revelam a verdade ou, se nos mentem, qual o propósito !

Reflectir, ponderar, sobre o sentido e a finalidade do devir histórico é a finalidade da Filosofia da História, em cujo âmbito, uns negam toda a ideia de finalidade afirmando que a História é fruto do acaso e do imprevisto, enquanto outros afirmam o contrário insistindo na sua característica teleológica.
Uma terceira via, considera um absurdo incluir a História num "absoluto imprevisto", assim como o de a considerar uma "função determinista". Consideramos, permito incluir-me, que tal como na biologia estamos perante um processo de "acaso e necessidade" mas, diferentemente da biologia, o "acaso" pode sofrer, circunstancialmente, influencias "determinantes" introduzidas por actividade humana consciente.
Considerando que o propósito da ciência é de subordinar os factos a principios ou de os deduzir destes, Arthur Schopenhauer negava não só a cientificidade da História, mas igualmente o principio de um "devir" (determinante) histórico.
Dizia Schopenhauer (in "O mundo como vontade e como representação", suplemento ao livro III, capitulo XXXVIII) :
"A divisa da História deveria ser "Eadem, sed aliter", ou seja, "as mesmas coisas, mas de outra maneira". …

O género histórico pretende definir-se pela sua finalidade, o relato de acontecimentos passados. Mas, há relatos e relatos.
Juntamente com a História existe a lenda, como narração criadora de heróis a partir do homem histórico, e o mito, evocador de mistérios originais e de poderes da natureza, descritos numa linguagem imaginada e simbólica.
O conto, a lenda e o mito têm uma função de ensino. A História também ! Porém, o que faz a especificidade da História é que ela pretende cingir-se aos factos, citar os acontecimentos humanos.
Heródoto de Halicarnasso, um dos primeiros historiadores gregos, justificava a sua acção "para impedir que os actos cometidos pelos homens fossem apagados pelo tempo".

O vocábulo grego "istoria" significava inquérito, não relato ou narração, porém, a partir da Idade Média, com o fervor de transmitir verdades, transformou-se em "interpretação" tendenciosa, ideológica e catequética.
A vocação primária da História em construir uma memória inalterável e de garantir una perenidade ao passado foi assumindo funções de catecismo dirigido à formação (deformação) das mentes, e predestinando-se como função manipuladora.

Assim que, a História não passa de uma interpretação de acontecimentos conhecidos, de uma representação ideológica de encadeamentos mais ou menos forjados para constituir um conjunto minimamente coerente.
Analizemos, e.g., a batalha de Waterloo (18 de Junho de 1815).Tudo é confusão nesta história.
Denomina-se "batalha de Waterloo" por imposição dos vencedores, ingleses, pois essa batalha não se realizou no sitio de Waterloo, mas sim no sopé do "Mont-Saint-Jean Mont", e por esse nome é conhecida pelos franceses, sendo designada pelos alemães como batalha da "Belle-Alliance" (nome da propriedade rural que incluia o que foi o campo de luta).

Três denominações diferentes para uma mesma batalha mas, como é habitual na História "oficial", é a versão dos vencedores que se impõe.

Uma emissão televisiva da BBC, cuja pretenção era explicar a "batalha de Waterloo", é elogiada a eficacidade dos ingleses sem citar as restantes tropas da Coligação, nem mesmo os prusianos a quem, segundo fontes militares, devem a consolidação da vitória.
Mas, a confusão não fica por aqui, e a perplexidade vai em aumento quando constatamos que a versão de "magnífica vitória da capacidade militar", cantada pelos ingleses vencedores, é confrontada com testemunhos que não hesitam em acusar o marechal francês "Marquis de Grouchy" de indecente traição.
Na prisão degredo da ilha de Santa Helena, Napoleão escreveu ; "O marechal Grouchy, com 34 000 homens e 108 peças de artilharia, conseguiu o segredo de, na jornada do 18 de Junho, não ser visto no campo de batalha do "Mont-Saint-Jean" …
Em Julho de 1815 Grouchy refugia-se nos Estados Unidos, onde residirá cinco anos.

Porém, Waterloo não é caso único !
Sobre a origem do cristianismo ou a revolução francesa de 1789, a "invasão" àrabe à Europa no século IX ou as guerras de 1914/1918 e 1939/1945, o que nos contam são versões políticas dos vencedores, sendo as omissões e interpretações "politicamente correctas" dos historiadores "oficiais" em grande parte devidas à sua deficiente actividade de pesquiza, e à consequente aceitação de modelos reprodutores de lendas consideradas fundacionais.

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3. Origem de Portugal

quinta-feira, 26 de abril de 2007

O mito de Alfonso Anriques





Tema importante e controverso, a biografia daquele que foi o 1º rei do Estado português continua a ser considerada dogma pelos contadores de histórias canónicas e profetas do passado, incapazes de processar um raciocinio critico.
Desde um lusitanismo obtuso, peremptório e intolerante, querem fazer-nos crer que Alfonso Anriques era filho de uma maquiavélica Dª Tareja e que o milagre (ou magia) da "virgem negra" de Cárquere é um acontecimento histórico…

Alfonso Anriques representava uma aposta de alguns nobres e do poderoso bispo de Braga que, tendo o infante apenas 16 anos, o levaram a Zamora e o armaram cavaleiro, mantendo sempre uma constante pressão para alargar o território, incorporando nele as mais diversa etnias e crenças religiosas.

A realidade é outra, e sobre esse assunto apresentaremos os nossos argumentos que desenvolveremos em cinco partes :
* 1. Túmulo e ADN
* 2. Curiosidade e História
* 3. A origem de Portugal
* 4. A geoestratégia de Cluny
* 5. Portugal : nações amalgamadas num País
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1. Túmulo e ADN

A antropóloga Eugénia Cunha, da Universidade de Coimbra, realizava (em 2006) estudos sobre as relíquias dos santos do Mosteiro de Santa Cruz, a pedido da Diocese de Coimbra, quando se apercebeu de que uma empresa ia fazer ali obras de restauro. Pensou que seria uma oportunidade para levantar a pedra do túmulo de D. Afonso Henriques (Alfonso Anriques) e proceder a um estudo ao material biológico existente.
De Afonso Henriques não há, o que não é habitual, nem retratos nem estátuas da época. Por isso, um dos objectivos da equipa de antropólogos seria fazer a reconstituição tridimensional da face, fazendo analizar o crânio por uma máquina trazida para Portugal para este estudo por um dos membros da equipa, Miguel Botella, da Universidade de Granada.

Eugénia Cunha e a sua equipa conseguem a ansiada autorização tanto da Diocese de Coimbra, como da direcção regional do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e decidem abrir o túmulo do primeiro rei de Portugal a 06 de Julho de 2006.
Porém, nesse mesmo dia, o Ippar (direcção nacional) cancela abertura do túmulo, alegando que não fora consultado …

A 4 de Agosto de 2006, o IPPAR anuncia que a autorização para abertura do túmulo foi "um erro administrativo" !
A 17 de Janeiro de 2007 um novo pedido é apresentado ao IPPAR que, a 28 de Março reitera a recusa de abertura.

O presidente da Direcção Nacional do IPPAR, Elísio Summavielle, disse que o Conselho Consultivo do instituto votou por unanimidade, no dia 19 de Março, um parecer no sentido de a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, não autorizar a abertura do sarcófago do rei, localizado na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra.
“Não estavam suficientemente acauteladas as questões de salvaguarda patrimonial”, justificou a Direcção Nacional do IPPAR, esclarecendo que o Conselho Consultivo do IPPAR integrou no parecer final as posições do Instituto Português de Conservação e Restauro (IPCR) e do Instituto Português de Arqueologia (IPA), tendo ainda sido considerados os esclarecimentos da Universidade de Coimbra e da empresa Teixeira Duarte, à qual caberia auxiliar os investigadores na operação de abertura do túmulo, mas os relatórios destas duas entidades não foram considerados suficientemente conclusivos e não ofereciam garantias totais de segurança para os materiais arqueológicos e osteológicos.
Ou seja, os "camaradas" do IPPAR colocando dúvidas sobre os relatórios dos ciêntificos da Universidade de Coimbra e dos técnicas de uma das mais conceituados empresas do mercado.
Enfim, uma explicação que não é mais que uma trapaça !

Com a recusa da abertura do túmulo de Alfonso Anriques, nomeado pela Igreja de Roma como 1º Rei de Portugal, é cada vez maior o número daqueles que consideram estranha a atitude oficial e sentem curiosidade por uma parte da História, relacionada com a verdadeira identidade de Afonso Henriques, e que "oficialmente" parece haver interesse em esconder, em beneficio de uma versão conscientemente falsificada.

Com efeito, a posição do IPPAR reforça a versão de que o verdadeiro Alfonso Anriques, por ter nascido "entrevado", foi substituido por um bastardo de Egas Moniz, e se um exame fosse realizado ao ADN do que foi rei, e também ao ADN daquele que dizem ser seu pai (sepultado na catedral de Braga), talvez o resultado confirmasse que Alfonso não é filho do conde Henri, mas sim um usurpador.
A realidade não seria alterada, mas os crentes no herói Alfonso provavelmente decretariam uma lei que proibiria duvidar da versão oficial, acertando a realidade pela trapaça (processo em que não seriam precursores…), mas teriamos uma evidência mais de como se manipula a História.

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2. Curiosidade e História

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Rede Galaica


Somos muitos... temos que ser mais !


Informação recolhida no http://redegalaica.blogspot.com
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http://calacia.blogspot.com/ - Galaico e Conservador
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http://conservador.blogaliza.org/ Blogue Identitário Galaico- Galizaria
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http://galizaria.blogspot.com/ Blogue Identitário Galaico- Gallaecia
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http://legiaoinvicta.blogspot.com/ Blogue Identitário e Cultural Galaico- Nova Galiza
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segunda-feira, 23 de abril de 2007

País e Nação




"a identificação nacional"
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Um inquérito sociológico realizado há dez anos (1997) pelo Instituto da Comunicação Social (ICS), incidindo numa amostra representativa da população jovem portuguesa (15-29 anos de idade), interrogava sobre o grau de identificação dos inquiridos com o "espaço nacional".

Os jovens que responderam ao inquérito tem na actualidade entre 25 e 39 anos, ou seja, já são "jovens maduros", tendo muitos deles optado pela vinculação política activa !

Os inquiridos que se identificaram prioritariamente com Portugal são sobretudo habitantes de Lisboa e populações do Sul.
Os outros inquiridos distribuem-se sobretudo pelos seus "lugares" - aldeias, vilas ou pequenas cidades - ou pelas suas "regiões", principalmente no Norte.
Por fim, há um resíduo de excêntricos, no duplo sentido da palavra, que dizem identificar-se prioritariamente com o espaço europeu ou mesmo mundial.

Da tabela resultante, como resposta à identificação ressentida, extraimos os seguintes resultados :

Lugar / Região...45,7....(16,6 / 29,1)
Portugal...........41,6
Europa.............4,7
Mundo.............4,4
NS/NR.............2,7

Inquérito aos jovens - Instituto da Comunicação Social (ICS) - 1997

Depois dessa data outros inquéritos foram realizados, mas… ficaram democraticamente arquivados nas gavetas do "poder central" !

Que reflexão deverá ser feita ?
Enfrentar a realidade e optar por soluções verdadeiramente nacionalistas ou continuar a impor noções de "império interior" cada vez mais afastadas da realidade ?

Que nos sirva de exemplo o caso espanhol onde os nacionalistas hispânicos, à força de gritar a "unidade espanhola", perderam uma activa participação nos nacionalismos locais, quase sem excepção controlados pela esquerda marxista, que apenas se diz nacionalista por razões de estratégia eleitoral.

As correntes nacionalistas que, por deficiência de análise e/ou por submissão a europeismos de importação, pretendem a existência de uma Nação lusitana do Minho ao Algarve, são involuntarias (?) colaboradoras do esvaziamento do contexto cultural nacionalista.

A Europa é um espaço geográfico, uma realidade histórica e uma afirmação cultural proveniente da etnicidade que a constitui.
Os povos europeus, assentes numa interioridade cultural única, nunca souberam ser uma massa populacional uniforme e sempre se rebelaram contra as tentativas de os enjaularem em conceitos massificadores centralistas, mais ou menos imperiais, provindos de Roma, Aix-la-Chapelle, Bizâncio ou Paris.

Submetidos a centralismos políticos que os compartimentam em territorios designados como países, são de novo vitimas de um imperialismo "pós-moderno" que os pretende "normalizar", impondo-lhes a urbe como "habitat" e o consumo compulsivo como "cultura" !

A Europa sempre foi uma união cultural de povos e territórios soberanos, capaz de se afirmarem como tal e sabendo defender-se das normalizações em que sempre quiseram manieta-los.
O fundamento, a reserva para que se possa preservar a "cultura europeia", na sua diversidade nacional, é precisamente a Nação, as diversas nações que constituem a Europa dos Povos, não a Europa dos Países, que são "jaulas políticas" delineadas para amalgamar povos e converte-los em populações.

Por outro lado, a noção de Europa "nacional" é uma falácia que poderá destruir definitivamente a sua fundamental diversidade, a riqueza que reside nos povos que a constituem, na sua etnicidade e na sua particular expressão cultural.

Tenhamos presente que o fundamento da nossa proposta é a potenciação dos valores nacionais que existem no interior de cada país, não uma recusa do conceito de País.
No caso português, consideramos que através da Regionalização, se as Regiões forem reflexo de expressões culturais e não de "recortes políticos" provenientes de uma perspectiva "desde as Portas de Santo Antão", poderemos participar activamente na preservação da "diversidade cultural europeia", e consequentemente acautelar a Europa e a sua perenidade.

Este é o desafío com que temos de nos enfrentar à Europa dos mercados, às mitologias pátrias e aos conceitos de "Imperium".

(…)
Os partidos, sejam quais forem as suas opiniões ou os seus interesses, ganham sempre com a centralização.
Se não lhes dá maior número de possibilidades de vencimento nas lutas do poder, concentra-as num ponto, simplifica-as, e, obtido o poder, a centralização é o grande meio de o conservarem.

Alexandre Herculano, "Carta aos eleitores do Círculo de Sintra" (1858)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Portucale e Galiza






"Reunião de Guimarães"
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13 Abril 2007

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O tempo em que o Norte de Portugal (futura "Região Portucalense") e a Galiza funcionavam de costas voltadas está definitivamente enterrado, e representantes das duas regiões reuniram-se em Guimarães para discutir a aplicação de 73 milhões de euros em projectos de cooperação transfronteiriça, entre 2007 e 2013.
Além de sublinhar a importância de fazer avançar a ligação ferroviária em alta velocidade entre o Porto e Vigo o plano estratégico de cooperação Norte de Portugal (Região Portucalense) e Galiza abre a porta à gestão conjunta dos quatro aeroportos, bem como dos portos marítimos desta euro-região.

Esta reivindicação prevê a criação de um consórcio transfronteiriço de transportes, com capitais públicos e privados, destinado a tornar complementares os três aeroportos galegos (Alvedro na Corunha, Lavacolla em Santiago e Peinador em Vigo) e o de "Pedras Rubras" em Matosinhos (Área Metropolitana do Porto)
Pretende-se aplicar o mesmo principio aos portos da euro-região : Leixões e Viana (na futura Região Portucalense), e Vigo e Corunha na Galiza.

O plano estratégico será gerido pelo futuro Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial, um organismo a criar até ao final do ano e que ficará localizado no Centro Tecnológico do Mar, em Vigo, substituindo o actual Eixo Atlântico, que representa os 18 principais municípios desta euro-região, com cerca de 6,3 milhões de habitantes.

Paulo Gomes, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDR-N) adiantou que a cooperação vai incidir também na gestão integrada da bacia dos rios Minho e Lima, no domínio da qualidade e da segurança alimentar, e no desenvolvimento em conjunto de tecnologias de conservação de pescados, avançando com a certificação de produtos que inclua também o sector agrícola.

Iniciar-se-á a gestão integrada dos parques naturais do Gerês e de Montesinho, uma aposta de intervenção integrada nestes espaços de fronteira avançando como nunca numa ambiciosa cumplicidade entre as duas regiões".

Revelou ainda o vice-presidente do CCDR-N, Paulo Gomes, que os 97 milhões de euros que a UE destinou à nossa euro-região "são apenas um terço do montante obtido nos últimos sete anos", admitindo, por isso, que as duas regiões possam desviar até 10 por cento dos respectivos envelopes financeiros regionais para montar esquemas de intermodalidade no movimento de mercadorias, empresas e pessoas.

Nos últimos quatro anos a movimentação de mercadorías entre o Norte de Portugal (futura "Região Portucalense") e a Galiza aumentou em 23%, segundo referiu Emílio Perez Touriño, chefe do governo galego, que recentemente participou num jantar-colóquio, no Porto, com políticos e empresários de ambas regiões.

Calécia

"opiniões e argumentos"


Li um comentário no "http://arqueofuturista.wordpress.com", em resposta a um leitor, que me permito transcrever (resumindo) e analisar :
"O passado cultural da Calécia está tão olvidado quanto o das outras regiões da antiga Hispânia.
(…) se é útil estudar e conhecer o passado remoto do nosso povo português, também é sobremaneira importante compreender que o combate identitário actual está longe de animar aspirações anacrónicas e irrealizáveis como é essa ideia de uma Calécia independente ou incorporada na Galiza."
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Creio que o passado cultural das regiões "da antiga Hispânia" não está igualmente olvidado em todas elas !
O processo autonómico espanhol permitiu um relançamento cultural das nações que se encontravam há séculos "castelhanizadas" e hoje podemos constatar o reaparecimento de linguas que estiveram proibidas (basco, galego, catalão, valenciano, asturo-leonês …) e a expansão de costumes, folclores e tradições que o centralismo cultural castelhano tinha tornado confidencial.
O elevado desenvolvimento económico da autonomias como Catalunha, País Basco ou Galiza, é hoje um dado adquirido !

A opinião de que uma Calécia independente ou incorporada na Galiza são "aspirações anacrónicas e irrealizáveis" é perfeitamente respeitável, assim como a contrária também o é, embora não a comparta, pelo menos no formato tão redutor em que a apresenta.
Com efeito, uma Calécia, no sentido de Região Norte, independente, é um contrasenso que nunca ouvi ou vi defendido por ninguém desta Região. É uma opinião forânea que, mantendo-nos dentro dos nossos habituais limites de moderação, poderiamos classificar de provocatória… se é que alguma vez foi formulada !

Quanto à "incorporação" da Calécia na Galiza é talvez uma visão modernista, uma perspectiva angular desde o Centro Cultural de Belém (para não insistir no Terreiro do Paço), que não representa a característica bravura e altivez do povo nortenho.
Parece-me teóricamente aceitável, num futuro mais ou menos longinquo, o retorno a uma Região compartida por um mesmo povo, uma mesma lingua, uma mesma cultura… A "incorporação", no sentido de "anexação", não é seguramente um projecto nortenho !
Gallaecia é um todo étnico e cultural, separado por uma fronteira politico-religiosa, com o a parte norte (Galiza) saindo de um processo de castelhanização, e a parte sul (Região Norte) submetida hà séculos a uma colonização política de um governo centralista.

No presente, a Região Norte, se for aceite como tal, continuará a ser parte integrante de Portugal, colaborando e participando num destino, numa História, que tem sido comum há séculos. E estou íntimamente convencido de que assim pensa a maioria dos nortenhos !
Porém, se o Estado portugués mantêm as discriminações politico-económicas, se continua a mega-concentração numa espécie de "capital-estado", pode iniciar-se um processo de desagregação, latente já em várias Regiões do País (não somente na Região Norte).

Olhar para o lado e assobiar, ou pretender desqualificar o que não agrada (recurso frequente), não me parece procedimento convincente.
Pretender alterar os factos pela teoria não altera em nada a realidade !

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Regionalização !




"Regiões Sim"



A luta pela regionalização vai voltar à actualidade.
Um movimento cívico nascido em Coimbra e baptizado "Regiões Sim", formaliza-se no dia 26 de Abril para pedir a realização de um novo referendo.
O objectivo é recolher 75 mil assinaturas para apresentar na Assembleia da República uma proposta legislativa para levar a criação de regiões a consulta popular.

A questão, chumbada em referendo há dez anos, regressa agora com novo impulso !

A associação a criar defende um mapa com cinco regiões, coincidentes com as actuais comissões de coordenação regional, e é encabeçada por Mendes Bota, que se diz "cansado de debates" e resolveu repescar o assunto para a sociedade civil depois de o PSD ter recusado a sua moção sobre regionalização no último congresso do partido.

Mendes Bota, diz agora dar a cara por um movimento independente, com gente de todos os quadrantes sociais e partidários.

Do lado dos socialistas, a regionalização só caberá numa próxima legislatura, depois de levar a cabo a desconcentração do Estado às cinco regiões em causa. Mas não recusam o debate.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Portugal : as nações que somos !





A defesa intransigente de cada Nação!
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Um texto redigido por Jean Monnet, intitulado "Declaração Schuman" e enunciado a 9 de Maio de 1950 por Robert Schuman, ministro do governo francês correspondeu, simbólicamente, às pancadas de Molière : o processo de destruição da Europa entrava em cena !
E… com a delicadeza de um "pas-de-deux" acompanhado ao trombone…
O objectivo era claro : transformar a Europa num negócio e os países em mercados onde o cidadão normalizado pela moda aceitaria a obscenidade como ética e o espelho deformante como estética.

Presentemente, a oligarquia política e financeira instala as estruturas de uma Europa devoradora das Nações que a constituem, construindo um espaço económico isento de cultura tradicional e, consequentemente, inibidor de afirmações nacionalistas.
Uma Europa de populações, que não de povos, convertidas em massa amorfa de consumidores !

O amálgama de nações em países, iniciado há séculos por nobrezas de auto-nomeação, impostas pelo sabre e pelo hissope, preverteu a realidade cultural de uma Europa que, depois de massacrada por uma religiosidade alógena, retalhada e remendada ao sabor de impérios, monarquias e repúblicas, invadida, bombardeada e ocupada por forâneos que lhe ditaram a norma política em que deveria sobreviver, não perdeu as profundas raizes de um conjunto de povos que não foram eleitos por nada nem por ninguém, senão por si mesmo !

Desvirtuando o mais profundo sentido da vida, que é a compreensão de si mesma, do micro-cosmos que encerra e do macro-cosmos que a engloba, transformou-se a comunidade em sociedade, a justiça leis interpretadas e o objectivo da vivência em ideal crematístico.

Vitimas de um centralismo estatal que faria corar de desejo o próprio Luis XIV, um humilde rei-Sol perante os actuais soberanos da democracia, os povos europeus sustentam uma oligarquia parasitária, uma casta de mediocres funcionários inamovíveis perante um salário empolado e absurdo, absolutamente desproporcionado à contribuição que dedicam à comunidade.
Manipulados, permanecem imersos na aceitação de que o ressentimento (maquilhado de compaixão) pelas desgraças alheias, é algo de iluminação humanistica, de metafísico e quase transcendente, convertendo-os em servos de um desprezo de si mesmos, até agora inédito.

Cada pais europeu está submetido a um concluio de bigorrilhas mascarados de "comissários" que lá de onde se encontram ditam às ineptas oligarquias locais as linhas com que se cozem… com que nos cozemos todos !

Invadem-nos com populações alógenas de quem temos de suportar, incluir e enaltecer, costumes, modas e vicios, estando terminamente proibida qualquer manifestação de desagrado, ou sequer de crítica.

Para melhor miscigenar étnica e culturalmente essas populações com os povos europeus, conscientes de que é a "nação", e não o país, o verdadeiro guardião dos valores culturais europeus, o "politicamente correcto" vai relançar agora o que considera a fase definitiva : a regionalização.
Não a regionalização cultural que sempre defendemos, porque defensora dos valores europeus, mas uma regionalização administrativa e financeira que pretenderá separar os povos que constituem, ainda, o âmago das cripto-nações artificialmente envoltas num manto denominado país, ou pátria para os mais embevecidos.

Algumas tendências europeistas continuam (por ignorância, por credulidade ou por "interesse") em apostar na Europa "über alles", na Europa da Sibéria ao Atlántico, na Europa dos Países (a que denominam demagógicamente Nações), na Europa da Europa… enquanto o "politicamente correcto" continua a destruir a Europa "desde dentro" !

Temos denunciado, perante a incredulidade de muitos e o desprezo de alguns (também a compreensão de poucos) que devemos olhar a História como um novelo constituido por vários fios que nos conduzem, por vezes sincrónicamente, através de acontecimentos que a "verdade oficial" nos apresenta "sempre" de forma diacrónica.

Arriscamos perder o que nos identifica à Europa, arrancam a Yggdrasil pela raiz, enquanto alguns nacionalistas estruturam, crédulamente, esquemas europeus, colocando "o carro à frente dos bois", ornamentando um projecto europeu para uma Europa que, progressivamente, se vai esvaziando de conteúdo.

A preocupação pelo renascimento das nações é uma realidade em países como a Bélgica, a Itália ou a Espanha, enquanto por cá continuamos absortos perante discursos europeistas de alguns que disso fazem profissão.

Traduzem-se (o que é um meritório trabalho) textos de alemães, franceses, belgas… esquecendo que, como nos diz o relativismo linguístico, "Cada lingua é um vasto sistema de estruturas, diferente em cada uma delas…" (Whorf).

Que os ensinamentos, as experiências vividas por outros, nos sirvam de aprendizagem, mas desenvolvendo nós mesmo os nossos textos, transcrevendo a nossa realidade, procurando soluções próprias, eventualmente inéditas.

sábado, 7 de abril de 2007

Em breve !


Regionalização
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Reconstrução Nacional