terça-feira, 12 de junho de 2007

Assim se entende a gente ! (2/5)



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modos de falar
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Os falares ou variantes da língua Portuguesa integram-se na língua histórica nascida na velha Gallaecia romana, que chegava até ao Mondego (até ao Vouga na época pré-romana), e que significava já, para além da homegeneidade que o latim concedia à escrita, uma variabilidade na lingua falada (ortoépia e léxico).
Em certas regiões desenvolveu-se mesmo um vocabulário próprio, como o seguinte exemplo da fala em Pampilhosa da Serra:
- em falar local - No cabeço, estava a cabraneta espalheirada, espernalgada, junto do atrelado, um achadiço bazaroco e abjola, encavacado e encorculhado !
- em lingua "oficial" - No cimo do monte, estava a leviana deitada, de pernas abertas, junto do namorado, um estrangeiro parvo e sem geito, envergonhado e encolhido !

Em 1893/97, José Leite de Vasconcelos propõe, no seu Mapa Dialectológico (primeira obra de dialectologia da língua portuguesa), uma classificação («Mapa Dialectológico do Continente Português». Portugal Dialectológico - 1897), da variação diatópica de Portugal Continental.
Esta variação organiza-se em três tipos de variedades: primárias ou dialectos, secundárias ou subdialectos e terciárias ou, simplesmente, variedades

Como variedades primárias ou dialectos reconhecia, o seu estudo,

1. o dialecto Interamnense —falado na região entre o Minho e o Douro—,
subdialectos
alto-minhoto —entre o Lima e o Douro—,
baixo-minhoto —entre oLima e o Douro até ao Tâmega—
variedade do Porto e a variedade da Póvoa;
baixo-duriense —entre o Tâmega e oCorgo

2. o dialecto Trasmontano —falado em Trás-os-Montes—,
o subdialecto da fronteira,
a linguagem de Macedo e a do Mogadouro
e o subdialecto alto-duriense-entre o Corgo e oTua,

3. o dialecto Beirão —falado na Beira—
o subdialecto da Beira Ocidental,
o subdialecto alto-beirão-entre o Douro e o Dão,
o subdialecto baixo-beirão
e o subdialecto de Fundão, Castelo Branco... até Portalegre

4. o dialecto Meridional —falado entre o Mondego e o Guadiana.
os subdialectos estremenho,
a variedade de Lisboa,

5. o dialecto alentejano
variedade de Sor-Avis e de Olivença

6. o dialecto do "Algarbe".

nota :
o mirandês não é considerado galaico-português, mas sim leonês
A Lei nº 7/99 de 29 de Janeiro Decreto N.º 303/VII é o reconhecimento Oficial de Direitos Linguísticos da Comunidade Mirandesa

Chegando à Península Ibérica em 218 EP (Era Precedente), os romanos trouxeram com eles a língua romana popular, o latim vulgar, de que todas as línguas românicas (também conhecidas como "Línguas novilatinas", ou, ainda, "neolatinas") descendem.
Já no século II EP, o sul da Lusitânia estava romanizado. Estrabão, um geógrafo da Grécia antiga, comenta num dos livros da sua obra Geographia:
"Eles adoptaram os costumes romanos, e já não se lembram da própria língua."
A língua tornou-se popular com a chegada dos soldados, colonos e mercadores romanos, que construíram cidades romanas normalmente perto de povoados já existentes.

A partir do século V EA (Era Actual) o Império Romano entra em colapso e a Península Ibérica é invadida por povos de origem germânica, que os romanos denominavam "bárbaros" (termo de origem grega que significava "aqueles que falam de forma ininteligível").
De entre os povos "bárbaros", os suevos e os visigodos adoptaram a lingua latina-romana mas, com o desaparecimento da administração romana, as comunidades começaram a evoluir o latim popular de forma diferenciada e a uniformidade linguística da Península, pretendida pelos romanos, apesar dos esforços da Igreja (que "ocupou", na forma, a administração romana), rompeu-se durante a Idade Média.
Por toda a Peninsula foram surgindo evoluções especificas do latim-romano (linguas "romance" ou "románicas"), com maior ou menor influência das linguas pré-romanas que ainda sobreviviam, principalmente no meio rural.

No século VIII EA, com a chegada às costas mediterráneas da Peninsula, desde o norte de África, de povos islamizados (mouros, árabes, berberes e descendentes de emigrantes visigodos) o árabe tornou-se a língua de administração das áreas por eles ocupadas, exercendo uma intensa influência linguística-cultural nos povos locais.

Porém, nem todas as regiões foram "tocadas" por igual e, no caso do norte da costa atlântica (Gallaecia), a influência árabe-islâmica foi diminuta.
Mais para o sul do Vouga a população foi gradualmente mais aculturada pelo islamismo e os seus falares foram influenciados por enorme quantidade de arabismos que a posterior monarquia portuguesa (com sede em Lisboa) introduziu na lingua portuguesa oficial.

Documentos administrativos datando do século IX revelam, na região da Gallaecia, a existência de uma lingua "romance" (ainda entremeada de termos em latim).
Essa lingua foi falada entre o Finisterra e o Mondego até que, após a constituição do Condado Conimbricense, a influência árabe de Toledo fixa no rio Douro a fronteira sul do território galaico.

2 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns por mais um artigo de grande interesse e qualidade.

Fiquei surpreendido e admirado ao ler que a Gallaecia pré-romana ia até ao Vouga e a Gallaecia romana até ao Mondego!
Já tinha ouvido algures ali e acolá que etnicamente a Gallaecia ia até mais a Sul do Douro, até ao Vouga, mas que ia até ao Mondego na época romana isso nunca tinha lido.
Pensei que a Gallaecia (embora na altura com outro nome) só começou a ser da Corunha ao Mondego a partir do repovoamento após a reconquista.
Enfim, este é um tema que merece um artigo próprio que esclareça tudo detalhadamente nuns 5 ou 10 capitulos como já havia proposto ;)
Fico a aguardar um bom artigo acerca do assunto para quando poder e se quiser.

Obrigado por este artigo e continuação de boms trabalhos para informação e esclarecimento da cultura e História Galaica.

Antonio Lugano disse...

Prezado Zagas
Grato pelas suas palavras de apoio.